domingo, 28 de julho de 2013

Familiares de cubanos presos em Miami agradecem apoio internacional e elogiam livro de Morais

Venezuela sedia encontro internacional de solidariedade com Cuba; ex-agentes são considerados heróis na ilha
Caracas sedia encontro de solidariedade com Cuba; Aily (ao centro) fala da falta do pai
Por  Luciana Taddeo no Opera Mundi

Enquanto conta sobre os 15 anos que já passou longe do pai, e das visitas a ele na prisão, Aily Labañino tenta manter-se impassível. Para de falar por alguns segundos para conter as lágrimas iminentes, mas elas escapam. “Força”, grita alguém da plateia, antes que todos a aplaudam de pé. “Não se pode chorar na frente do inimigo, mas aqui estou entre amigos”, diz aos participantes do 7º. Encontro Continental de Solidariedade com Cuba, realizado em Caracas até este sábado (27/07).

A jovem engenheira de informática, que com somente 13 anos foi notificada de que seu pai, Ramón Labañino, havia sido preso pelo FBI, se recompõe rapidamente e continua o relato. Conta da dificuldade de conseguir visto para os Estados Unidos, da frieza imposta pelas regras da prisão norte-americana, das brincadeiras e artimanhas que fazia para driblar os carcereiros e poder encostar no pai durante o horário de visitas, e de como se controla para não chorar, para que a imagem de “força” seja a última lembrança até o próximo encontro.

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Ramón Labañino foi preso em Miami em 1998, junto com Antonio Guerrero, Fernando González, Gerardo Hernández e René González, por acusação de espionagem. Conhecidos como “Os 5 cubanos” e vistos como heróis na ilha caribenha, eles tinham como objetivo infiltrar-se em grupos de extrema-direita em Miami que planejavam atentados contra Cuba em uma tentativa de derrubar o governo de Fidel Castro. O objetivo era obter informações.


Apesar da tristeza pelos anos que não pôde compartilhar com o pai, Aily conta ter orgulho do trabalho realizado por ele. “Lembro dos aniversários, dos dias dos pais, da minha festa de 15 anos, que em Cuba é uma tradição importante e da qual não tenho uma foto com ele. Mas não podemos ser egoístas. Nós familiares não vivemos muitos momentos com eles, mas muitas pessoas em Cuba têm a tranquilidade de estar com suas famílias devido ao que eles fizeram”, disse a Opera Mundi antes de sua exposição.

Ao seu lado na mesa, Camilo Rojo mostra-se como um dos exemplos da importância da contraespionagem realizada pelos cubanos. Filho de uma das vítimas do atentado contra o avião da empresa Cubana de Aviación, em 1976, na costa de Barbados, que matou 73 pessoas, ele enfatiza que mais de 360 ataques terroristas foram promovidos contra Cuba. E que muitos dos responsáveis por estes crimes, como o terrorista Luis Posada Carriles, que admitiu autoria do atentado contra o avião em que viajava o pai de Camilo e cuja extradição é exigida pela Venezuela, vive refugiado em Miami.

“Imagine por um instante, só por um instante, estar em um avião e que uma bomba exploda. Como devem ter sido os últimos momentos de vida de nossos entes queridos?”, questiona, afirmando que a cifra de vítimas do terrorismo contra Cuba supera os cinco mil. “Um mês antes do atentado, Bush pai sabia perfeitamente que iam explodir um voo da Cubana de Aviación. O que o governo norte-americano fez para impedir isso? Se calou. Cuba, por outro lado, soube que iam atentar contra aviões dos EUA e informou o governo norte-americano para que tomassem providências para que nenhuma vida se perdesse”, ressaltou.

Dos cinco cubanos presos em 1998, quatro continuam presos. René González, que estava em liberdade provisória na Flórida após 13 anos na prisão, obteve autorização para regressar a Cuba devido à morte do pai. Em maio deste ano, foi autorizado pela juíza Joan A. Lenard, de Miami, a ficar de maneira definitiva na ilha, desde que renunciasse à cidadania norte-americana, que tinha por ter nascido nos EUA. Para a mãe de René, Irma Sehwerert, apesar da alegria pela permanência do filho em Cuba, este desfecho foi uma vitória “em partes”. “O real triunfo teria sido que ele não cumprisse a pena completa, porque não se fez justiça”, diz.
Segundo ela, a luta dos familiares e “de todo o povo cubano” não terminará até a libertação dos demais presos por contraespionagem. “Precisamos fazer uma multiplicação desse conhecimento, porque nos EUA, a imprensa não toca no assunto, ninguém sabe do caso dos cinco. No começo nos perguntávamos como íamos fazer com que as pessoas soubessem do caso e estamos conseguindo. É a solidariedade que vai tirar eles daí, esqueça a política. O procedimento legal tem de continuar, mas é a pressão do povo para que Obama os indulte é que vai resolver esse problema”, garante.

Irma elogia iniciativas de divulgar a história dos cinco, como a do escritor brasileiro Fernando Morais, autor do livro Os últimos Soldados da Guerra Fria, que reconstitui a prisão dos dez presos pelo FBI (dos quais cinco fizeram um acordo com a justiça norte-americana, declarando-se culpados, relatando como o grupo operava, e conseguiram ser libertados), e a história dos cinco agentes que ficaram presos.

“O livro é magnífico, foi traduzido para o espanhol e para inglês, você começa e não consegue parar de ler. Ele conseguiu buscar a forma de atrair o leitor, é como se estivéssemos lendo um romance policial”, diz, afirmando que a obra teve repercussão em Cuba. Para Aily Labañino, o livro de Morais “é uma nova maneira de falar dos cinco, conta a história deles através de uma perspectiva que não tínhamos experimentado antes. Em Cuba teve um impacto muito grande, assim como em outros países, de onde também nos falaram do livro”, expressa.

Para ela, o livro tem como característica o principal desafio dos comitês que difundem o caso dos cinco cubanos, que é relatar “através de um olhar humano, quem eles foram e são, sobre a ação que fizeram realmente, com muitos detalhes de como foi o trabalho lá”. “Muitos norte-americanos ainda não conhecem este caso”, explica, afirmando que outro dos desafios é fazer com que a história chegue à imprensa internacional.

Segundo ela, no entanto, é “incrível” o apoio internacional recebido pelos familiares e a quantidade de pessoas ao redor do mundo que reivindicam a liberdade dos agentes. “Para mim é extraordinária e não tenho palavras para agradecê-lo”, conclui.

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