sábado, 27 de julho de 2013

Cuba atualiza modelo para garantir socialismo em todo século XXI, diz economista

José Ángel Pérez e filha de Che Guevara participam de evento em Caracas, que discute embargo econômico à ilha

Por Luciana Taddeo no Opera Mundi

"Haverá socialismo para sempre.” Com estas palavras, o economista cubano José Ángel Pérez, diretor do CIEM (Centro de Investigações da Economia Mundial), descarta que a economia de Cuba rume para um modelo misto ou de mercado. Segundo ele, as reformas iniciadas pelo governo de Raúl Castro se devem à necessidade de uma atualização para garantir a sustentabilidade econômica do socialismo “em todo o século XXI e para sempre”.

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As declarações de Pérez foram feitas nesta quinta-feira (25/07) durante conferência do 7º Encontro Continental com Cuba, realizado em Caracas até o próximo sábado. Ao abordar a necessidade de uma reorganização do emprego estatal, empresarial e da satisfação das demandas básicas da ilha, o economista afirma que nenhuma das reformas implementadas será infiel aos princípios do socialismo.

Segundo ele, “não haverá retorno à economia de mercado ou concessões dos princípios do socialismo científico” em Cuba. “Vamos desenvolver e aprofundar nosso socialismo, com fidelidade aos princípios e flexibilidade nas teses. Não estamos mudando o núcleo central do método produtivo socialista. As atualizações serão feitas com respeito à nossa história, ao que vivemos”, garante o economista.

As atualizações, anunciadas em meados de 2010, são “experimentais”, segundo Pérez, e passam por constantes correções. “Agora estamos frente a um dos momentos mais significativos da atualização. Nos últimos dois anos, constatamos resultados discretos, ainda insuficientes e corrigíveis, mas economicamente vamos nos aproximando do que queremos”, afirma, explicando que o objetivo da reforma é “descentralizar a gestão para que a propriedade social funcione melhor”.

Segundo ele, as causas que levam à necessidade de atualizar o modelo econômico são o bloqueio imposto pelo governo dos Estados Unidos, que gerou prejuízos superiores a 1 trilhão de dólares até 2012, a queda da União Soviética e o alto desenvolvimento social obtido com a Revolução Cubana, que fez com que o país alcançasse índices equiparáveis aos do chamado“primeiro mundo”.

Bloqueio

Também presente no evento, Aleida Guevara March, filha do revolucionário argentino Ernesto “Che” Guevara, expôs sua experiência como “uma mulher cubana” frente ao bloqueio. Pediatra, Aleida contou que o bloqueio não deveria impedir o acesso da ilha a alimentos e medicamentos, mas que estes itens são “os primeiros que o governo dos EUA utiliza contra Cuba”. “Estando a 90 milhas dos EUA, o comércio deveria ser quase fisiológico. Eles são grandes produtores de leite em pó, nós éramos receptores naturais, assim como dos grãos norte-americanos”, conta.

Segundo ela, a escassez de remédios afeta diariamente o tratamento médico em Cuba.  “De cada dez medicamentos, oito têm patentes norte-americanas”, conta, relatando casos de mortes de crianças porque o governo norte-americano impediu o envio de remédio à ilha.

“Uma vez me perguntaram se eu era pediatra ou nutricionista. Porque todos os médicos de Cuba sabem que existe uma planta adstringente excelente para aliviar o catarro. Então usamos para substituir os remédios, que não chegam, e, em minhas receitas, eu ensinava os pacientes a ferver a planta para utilizar como gotas nasais”, conta.

“Até quando o mundo não vai reagir contra o bloqueio?”, questionou a filha do Che, afirmando que os países que aceitam a política de sanção dos Estados Unidos contra Cuba também são vítimas. “Temos um grande pólo científico de desenvolvimento, avançamos na vacina contra o câncer, mas os europeus são impedidos de comprar nossos medicamentos”, disse. “Onde está a velha Europa, que a única coisa que faz é baixar a cabeça e claudicar o tempo todo?”, indagou.

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