quinta-feira, 7 de março de 2013

Cuba: a economia das duas moedas



Por Bruna Andrade no blog Memórias Cubanas

A economia é o setor mais problemático de Cuba, principalmente por se tratar de um país socialista, que pretende garantir a máxima igualdade entre seus cidadãos. O país tem, claramente, uma grande dificuldade em acabar com as desigualdades econômicas que, claro, passam longe dos abismos sociais que encontramos em países capitalistas como o Brasil, por exemplo.

Cuba é um país historicamente pobre e pouco industrializado, mas, apesar disso, lá não se vê a pobreza extrema, ou a riqueza abundante. No entanto, existem, sim, desigualdades econômicas, e o fator chave para isso é a “doble moneda”. O país trabalha com duas moedas, uma é o CUC, e a outra o Peso Cubano, também chamado de Moeda Nacional; a primeira tem paridade cambial em relação ao Dólar estadunidense, e um CUC vale 24 Pesos Cubanos. O CUC é a moeda que os turistas usam (o turismo é a maior fonte de divisas do país), aceita em hotéis, museus, restaurantes, locadoras de veículos, táxis… Já a Moeda Nacional é a usada pelos cubanos e, geralmente, não é aceita em locais voltados para o turismo.

É justamente o turismo o grande divisor de águas que faz com que a “doble moneda”, que um dia já foi vista como a solução para a economia do país, hoje seja um de seus maiores problemas. Ocorre que os cubanos recebem seus salários em moeda nacional, algo entre 300 e 400 Pesos Cubanos por mês, mas, quem trabalha com o turismo tem acesso ao CUC, uma moeda muito mais valorizada e que a maioria dos cubanos não acessa. Uma pessoa que alugue um quarto de sua casa para turistas por 25 CUCs por dia, que é a média em Havana, e que mantenha esse quarto ocupado por 20 dias no mês, vai receber, em moeda nacional, 12000 Pesos Cubanos, o equivalente 40 meses de salário de um cubano que ganhe o salário mínimo. (Uma das recentes mudanças econômicas do país foi a permissão do trabalho por conta própria. A partir disso, os chamados “cuentapropistas” podem abrir restaurantes, ter um táxi particular, ou alugar quartos para turistas, por exemplo.) Outro exemplo das consequências dessa dualidade monetária: se uma pessoa optar por largar seu emprego para pedir dinheiro aos turistas em frente a um hotel e ela conseguir 1 CUC por dia, o que não seria nada difícil, ao final do mês ela terá ganho 720 Pesos Cubanos, mais que o dobro do salário mínimo de um trabalhador, e isso de fato ocorre.


Realmente Cuba tem salários relativamente baixos, porém, as garantias e subsídios que o Estado dá aos cidadãos fazem com que esses valores se relativizem. Um cubano tem direito ao acesso gratuito à Saúde e à Educação, e ninguém precisa mendigar por esses direitos. Se uma criança, por algum motivo não pode ir até a escola, um professor vai até a sua casa, pois estudar é um direito seu. Além disso, todos os produtos da cesta básica recebem subsídio do Estado, e as famílias têm uma cota mensal para comprar esses produtos, é a chamada “Libreta”. Com o subsídio, o litro de leite custa 0,20 e o pão 0,05 Pesos Cubanos, porém a cota da “Libreta” não dura o mês inteiro, e sem o subsídio o leite passa a custar 5 Pesos Cubanos e o pão 1 Peso. Afora Alimentação, Saúde e Educação, Cultura, Esporte e Lazer também parecem ser prioridades em Cuba, exemplo disso é que, mesmo com o grande problema de abastecimento de papel que o país tem, podemos encontrar livros até por 1 Peso Cubano, o que, se fizermos uma conversão comparando os salários mínimos de Cuba (300) e Brasil (678), aqui custaria R$ 2,26, em valores reais custa R$ 0,08, além disso, entradas para um jogo de baseball do campeonato nacional, para o teatro ou cinema, custam apenas 2 Pesos Cubanos.

Enfim, ao básico e ao prioritário os cubanos têm acesso gratuito ou a preços módicos, mas o que foge disso realmente começa a ficar caro. Comer fora, ao mesmo tempo em que é muito barato para um turista (pagamos R$ 8,00 em um prato com salada, arroz, e bife de porco para duas pessoas e R$ 16,00 por um prato de lagosta), é muito caro para os cubanos, o prato que pagamos 8 reais custaria 96 Pesos Cubanos, quase um terço do salário mínimo; bolacha recheada, refrigerante, produtos de higiene também são muitos caros.

Muito dos altos preços desses últimos produtos citados se deve ao criminoso boqueio econômico a Cuba, praticado pelos Estados Unidos, que por muito tempo impediu que chegassem à ilha desde carros até medicamentos. Hoje, o bloqueio segue dificultando a entrada desses e de outros produtos, mas eles já chegam através de parcerias com países como Venezuela, Canadá, China e Brasil, inclusive, ou são produzidos na escassa indústria local.

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