sexta-feira, 23 de abril de 2010

CUBA - guerra cultural.

Ubieta: "Cuba vive submetida a uma guerra cultural".


"Cuba vive sob intensa guerra cultural desde o triunfo da revolução". Com esta afirmação, o periodista e escritor cubano, Enrique Ubieta se apresentou numa conferência realizada em Valência, a convite do Partido Comunista do País Valencia (PCPV-PCE) e da Associação Valenciana de Amizade com Cuba José Martí, em uma excursão que faz a Espanha. O diretor da revista cultural "La Calle del Medio", ressaltou que os protestos das Damas de Branco "ou" os últimos episódios como greves de fome, são elementos indissociáveis do assédio sofrido pela ilha.


"O mundo tornou-se um enorme palco para a fabricação dos padrões de pensamento, que preparam o público para invasões e guerras." Cuba seria, na opinião do jornalista Enrique Ubieta, um destes cenários, em que se trava toda uma "guerra cultural".

Um exemplo que ilustra este fenômeno são os protestos das "damas de branco". "Eles copiaram o modelo das Mães da Plaza de Mayo - mulheres com maridos na prisão - adotando, inclusive, a cor branca, com raízes na cultura afro-cubana. No entanto, buscando os holofotes da mídia, têm dirigido suas movimentações até uma igreja católica", explicou Ubieta.

O ensaísta destacou o fato de que as "damas de branco" foram acompanhadas, em seus protestos, por diplomatas dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha, da República Checa e da Alemanha, países as financiam; assim como, pelas câmeras da CNN e da TVE. "Isso seria impensável em qualquer outro país no mundo".

Qual é a correlação de forças nessa "guerra cultural"?. Enrique Ubieta destacou a "assimetria" e desequilíbrio em favor da direita. "Por exemplo, na mais recente campanha midiática contra Cuba, liderada pela imprensa espanhola e de Miami, foram expostos os interesses dos jornais como El Pais e El Nuevo Herald, que estamparam praticamente as mesmas manchetes e dito as mesmas coisas". "Esses tipos de campanhas têm influência, especialmente na Europa". Uma situação diferente seria para a América Latina que, ao contar com outras referências, como Che, ou com o trabalho de médicos cubanos, é menos suscetível aos ataques da direita. "Em qualquer caso, há outra opção: a imprensa alternativa", disse o escritor cubano.

As últimas greves de fome e, principalmente, a sua instrumentalização em busca de mártires contra-revolucionários, armam a ponta da lança da "guerra cultural" contra Cuba. "É muito respeitável a dor de uma mãe (em referência a Zapata Tamayo), mas se usa o fato politicamente, o que não vemos em países como Colômbia, México e Honduras".

No caso de Guillermo Fariñas, escondem alguns de seus dados biográficos, que lembra Ubieta. Trata-se de uma pessoa detida não por capricho, mas sim por agredir e matar uma mulher em seu local de trabalho. Uma vez na prisão se declara em greve de fome para tentar conseguir a revogação da sentença. Em entrevista ao El Pais, disse que seu perfil é o de um "mártir".

"Sem dúvida Fariñas está sendo usado para destruir a revolução", concluiu o escritor cubano. "A equipe médica está fazendo todo esforço para salvá-lo. Ninguém quer morrer. Se alguma coisa tem caracterizado a revolução cubana, desde suas origens, é a luta diária pela vida".

Os efeitos das campanhas de mídia se visualizam em determinados slogans internalizadas por um cidadão médio. Palavras como "regime" ou "ditadura", assinaladas em relação a Cuba, sem qualquer crítica, "geram matrizes de pensamento". Há também, segundo Ubieta, uma ideia geralmente aceite de "liberdade", "democracia" e "direitos humanos", partilhada pela direita e pela "esquerda correta", que afirma que "há de se asfixiar Cuba".

Nessa batalha midiática, que tem lugar no "quintal" dos Estados Unidos, a figura de Obama se mostra ao público com um perfil de "moderado", o que esconde, de acordo com Enrique Ubieta,"uma dupla face". "Há um discurso de Obama, outro dos Clinton, e um terceiro dos grupos neocons instalados nos centros de poder". O golpe em Honduras, planejado desde os Estados Unidos, e a instalação de novas bases militares na Colômbia, desmentem a moderação do presidente norte-americano.

Em busca de possíveis saídas a partir da esquerda, e de mensagens que apelam para a esperança, a referência é encontrada na América Latina, "onde houve uma ruptura em termos culturais". Isto é, para o intelectual cubano, um fato de extrema importância, já que "o controle dos Estados Unidos sobre a América Latina é essencial para o capitalismo internacional". Os sintomas de ruptura se expressam, por exemplo, na última cimeira da Organização dos Estados Americanos (OEA), realizada em Honduras. Hillary Clinton se retirou da reunião afirmando que não havia consenso e as reuniões continuaram. "Isso seria impensável há alguns anos atrás", concluiu Ubieta.

O outro eixo do assédio à Cuba é a União Européia. Em um grupo tão heterogêneo de países, chama a atenção que a única posição unânime é a respeito de Cuba (a denominada "posição comum"), "apenas por uma questão de ser um país que representa um símbolo", disse o diretor de "La Calle del Medio".

Assumido o cerco cultural que sofre a Ilha, Ubieta destaca as conquistas da revolução cubana para desmantelar os estereótipos e combater o impacto das campanhas da direita. Por exemplo, Cuba é o único país no mundo onde ocorre um crescimento sustentável; onde ninguém morre de fome ou de tuberculose, e com os mais altos índices de educação e saúde pública na América Latina (expectativa de vida é de 78 anos). Os números endossam o compromisso com a saúde pública como prioridade para o governo: os médicos cubanos trabalham em 60 países, e a Ilha dispõe, além disso, de mais médicos per capita do que a Espanha.

"Essas são conquistas de um país pobre, que deve ser comparado com outros países na mesma condição, não com potências desenvolvidas". "Isso não significa, obviamente, negar a existência de problemas na Ilha", sublinhou o escritor.

Ubieta assegura que muitos dos problemas se devem ao bloqueio "criminoso" contra Cuba, que inclusive provocou mortes. "Existem medicamentos e dispositivos médicos patenteados por empresas norte-americanas, que não podemos adquirir; no caso das novas tecnologias, não podemos usar cabos submarinos para nos ligar à Internet. Por causa do bloqueio a conexão deve ser feita por satélite, que é mais cara e lenta".

"Tudo o que queremos, concluiu o jornalista, é que nos liberarem do bloqueio para comprovar se é possível ou não o socialismo, em condições normais. Que nos permitam aproveitar o enorme potencial científico e intelectual gerado pela revolução. É intolerável que tenhamos que comprar na Oceania, algo que podemos adquirir a 90 milhas, nos Estados Unidos".

Fonte: LA REPÚBLICA
Tradução: Robson Luiz Ceron - Blog Solidários.

Nenhum comentário:

Postar um comentário